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16 octobre 2009

Corporeidade e Educação Física: do corpo objeto ao corpo-sujeito

Estudos de Psicologia (Natal)

Print version ISSN    1413-294X

Estud. psicol. (Natal) vol.13 no.2 Natal May/Aug. 2008
doi: 10.1590/S1413-294X2008000200011

RESENHA

    

 

    

O    corpo humano: objeto de intervenções e sujeito da existência1

    

 

    

 

    

Maria Isabel    Brandão de Souza Mendes

    

Centro Federal    de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte

    

 

    

 

    

Refletir sobre o corpo humano como condição ontológica e epistemológica é essencial para os debates acadêmicos e para as práticas sociais na contemporaneidade, haja vista que mesmo prevalecendo na tradição ocidental a visão dualista, também existem linhas de fuga que se contrapõem à fragmentação do ser humano e do conhecimento. Essa discussão configura as idéias apresentadas por Terezinha Petrucia da Nóbrega de forma brilhante por meio do rigor filosófico e de uma linguagem clara e envolvente, no livro de sua autoria intitulado Corporeidade e Educação Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito. A análise apresentada do pensamento de René Descartes (1596-1650) e de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) contribui com indagações sobre como a visão dualista tem influenciado a concepção de corpo e o fazer pedagógico em Educação Física; além de considerar as possibilidades de superação do dualismo e de uma nova ação pedagógica pautada numa concepção ontológica do corpo.

    

Nóbrega é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), atua no Departamento de Educação Física e no Programa de Pós-Graduação em Educação e é pesquisadora do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento. Em sua obra, a autora traz contribuições não somente para a área da Educação Física, mas para todos os estudiosos e profissionais de diversas áreas do conhecimento que se interessam pelos estudos do corpo, da mente, da fenomenologia, da educação e da sensibilidade. Essa segunda edição publicada em 2005 pela Editora da UFRN mantém o sentido da primeira, mas é revista pela autora, que brinda o leitor com o acréscimo de reflexões tecidas nos anos posteriores à primeira publicação, fruto de sua prática pedagógica e de pesquisa.

    

No primeiro capítulo do livro, Nóbrega apresenta "o olhar dos filósofos sobre o corpo" e demonstra que as idéias de separação e oposição entre corpo e alma; de privilégio do espírito, do intelecto e da razão no processo de conhecimento da verdadeira realidade marcam o dualismo ocidental e o corpo é considerado elemento inferior em relação ao próprio ser humano e ao conhecimento que produz. A autora ressalta que a visão dicotômica do ser humano assume diferentes formas ao longo da história da filosofia e enfatiza o dualismo platônico e cartesiano. Concomitantemente, vislumbra possibilidades de superação do dualismo, seja na Pólis grega na Antigüidade, seja nos pensamentos de Nietzche e Merleau-Ponty na filosofia contemporânea.

    

A análise minuciosa da concepção de corpo nos estudos de René Descartes centra-se no segundo capítulo, quando Nóbrega faz alusão à "perspectiva cartesiana: o corpo-objeto" e sua influência para diferentes áreas do conhecimento, como a Filosofia, a Ciência e a Educação, sem estabelecer um reducionismo das idéias deste filósofo, embasadas na sua Metafísica, na Ciência Médica e na Moral. Ao direcionar-se à Educação Física, chama a atenção para a fragmentação do saber lógico e sensível, para a racionalização das práticas corporais pautadas na lógica do controle, do rendimento e da produtividade.

    

Para confrontar o dualismo, a autora articula argumentos de forma surpreendente e diante do terceiro capítulo assume "a atitude fenomenológica: o corpo-sujeito", interrogando o estabelecido e invertendo o instituído, alicerçada pelo pensamento de Maurice Merleau-Ponty. A fenomenologia existencial deste filósofo busca superar a filosofia da consciência e o positivismo na ciência e tem como base a integração do corpo e da mente. A concepção do corpo-próprio e de motricidade presente no pensamento de Merleau-Ponty contribui com a compreensão de que o ser humano visto como totalidade está atado ao mundo em que vive. Como destaca Nóbrega, o corpo entrelaça o mundo biológico e o cultural, expressa a unidade na diversidade e quebra com o dualismo entre os níveis físicos e psíquicos.

    

Os conceitos de corporeidade, corpo-sujeito e consciência corporal são abordados e trazem também contribuições para o entendimento do ser humano enquanto corpo situado num contexto histórico e para a compreensão de suas diversas maneiras de se movimentar e atuar no mundo em vive. Nesse cenário de discussões, a autora revela contribuições significativas para a Educação Física, demonstrando outras possibilidades de intervir sobre o corpo e movimento, a partir de uma releitura das práticas corporais, tendo como fundamento a expressão e comunicação da complexidade dos sujeitos.

    

No quarto e último capítulo, a autora traz à tona uma série de discursos, intervenções, práticas corporais e impedimentos visualizados na contemporaneidade, capazes de modelar o corpo, reforçando a necessidade de reflexões sobre a temática em questão. "O corpo revisitado" demonstra que o interesse pelo corpo é antigo e vai se transformando de acordo com as estratégias de pensamento a que está vinculado e ao período histórico em que está inserido. Com a proposta de superar a compreensão cartesiana de corpo, representada pela metáfora do corpo-máquina, a autora retoma os estudos da percepção e da relação corpo-consciência de Merleau-Ponty, trazendo ainda no campo das ciências cognitivas, o estudo de Francisco Varela sobre a abordagem da auto-organização, que se aproxima dos estudos sobre a percepção, de Merleau-Ponty. Diante dessas reflexões, Nóbrega ressalta a idéia de que o organismo e o ambiente são interdependentes e a cognição não está separada do corpo, pois é compreendida como uma interpretação que emerge da relação entre o ser humano e o mundo vivido.

    

Na contramão da filosofia da consciência, a noção de carne é enfatizada para mostrar a possibilidade de uma reflexão corporificada, reforçar a idéia de que não existe separação entre os aspectos físicos, orgânicos e sociais do corpo humano e que este é, ao mesmo tempo, objeto de intervenções e sujeito da existência. Desse modo, a autora ressalta que os olhares fragmentados sobre o corpo não são suficientes e as análises sobre o corpo estão sempre sujeitas a interrogações, pois são abertas e inacabadas.

    

Desde 2000, quando foi publicada a primeira edição, Corporeidade e Educação Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito tem sido uma referência relevante para diversas instituições universitárias brasileiras que o adotam em cursos de graduação e pós-graduação. Considerando-se que atualmente esse livro encontra-se esgotado e que possui delineamentos teóricos sólidos, esperamos ansiosos pela próxima edição e pelas surpresas que poderão ser apresentadas pela autora em nova publicação.

    

 

    

Notas

    

1    Resenha do livro Corporeidade e Educação Física: do    corpo objeto ao corpo-sujeito, de Terezinha Petrucia da Nóbrega, publicado em 2000 e reeditado em 2005, em Natal, pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ISBN 85-7273-139-3).

    

 

    

 

    

Recebido em 26.nov.07   
   Aceito em 30.maio.08

    

 

    

 

    

Maria Isabel    Brandão de Souza Mendes, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é professora no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET/RN). Endereço para correspondência: Rua das Algas, 2190 (Ponta Negra); Natal, RN; CEP: 50090-410. Tel.: (84) 8816-4255. Fax: (84) 4005-2639. E-mail: isabel@cefetrn.br

      

 

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